Eu me lembro como se fosse ontem da primeira vez que ouvi a voz da Rainha do Rock Brasileiro.
Devia ter uns cinco ou seis anos quando "Ovelha Negra" tocou na rádio ou talvez fosse um CD dos meus pais — dessa parte, admito, não me lembro tão bem.
O significado da letra, é claro, eu não entendi na época.
Mas o ritmo e a presença daquela voz me marcaram, e essa se tornou uma das minhas músicas preferidas da Rita Lee.
Hoje, eu tenho 25 anos. Nasci muito depois do auge do sucesso dela, é verdade, mas nem por isso todo o legado histórico dessa artista deixou de "mexer comigo" de uma maneira que nenhum outro artista brasileiro conseguiu porque,pelo menos para mim, ela é sinônimo de confiança.
É um misto de sentimentos até um pouco difícil de explicar, para ser sincera: é energia, vontade de viver, de se permitir, de não desistir, de ter segurança. Sabe?
Durante a adolescência, essa mesma música foi uma das primeiras que aprendi (sozinha) a tocar no violão.
E, batendo nas cordas, vim a descobrir que esse mix de sentimentos vem não só das letras geniais da Rita Lee, mas tambémpela trajetória dela na música popular brasileira.
Essa ousadia da presença dela nos lugares e a coragem de tocar certos assuntos nas músicas sempre me deixou muito intrigada.
E é por isso, também, que a notícia da morte dela me traz um sentimento tão triste de perda: tenho certeza que eu não fui a única que me senti assim hoje.
Lembro que, quando criança, tinha muita vergonha de cantar " Amor e Sexo ", quase como se estivesse fazendo algo de errado.
A letra falava tanta coisa, trazia uma visão do sexo tão diferente que, quando tocava na rádio, eu chegava a ficar com as bochechas vermelhas.
E, mesmo assim, meus pais ouviam esse hit comigo em casa e no carro, cantavam junto.
Não sei vocês, mas se eu ouvisse um trecho da Mc Pipokinha no carro com meus pais, eles vão ficar muito envergonhados (e nada contra a Pipokinha, tá?).
Mas com a Rita Lee, seja falando de sexo, lança-perfume, várias drogas ou até as orgias dos anos 1970, ouvir essa música era super normal.
Eu cantava nas reuniões de família (com 10 aninhos), nos churrascos dos amigos dos meus pais, na praia e até com violão, quando adolescente.
Esse, eu acho, era um dos vários superpoderes da Rita Lee — a união.
Posso discordar de vários pensamentos dos meus pais, mas a gente concorda pelo menos nisso: não existe uma cantora tão poderosa e inspiradora quanto ela.
E sei bem que funciona assim em tantas outras famílias.
Aposto que até na disputa por terreno ou herança, se alguém colocar "Mania de Você" para tocar, o pessoal pausa a briga para dançar e cantar.
Essa presença dela, uma constante em várias famílias do Brasil, fez e faz toda a diferença.