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Juazeirinho chorava há 18 anos a morte de Dr Genival Matias de Oliveira

Um dia triste para o município que perdeu um doa maiores líderes da história

26/12/2024 às 15h33 Atualizada em 27/12/2024 às 23h41
Por: Heleno Lima
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Dr Genival Matias e o eu filho Bevilacqua
Dr Genival Matias e o eu filho Bevilacqua

"Quanto maior o anel, mais burro é o doutor". Essa era uma das frases preferidas do doutor Genival Matias de Oliveira, um grande homem que Juazeirinho se orgulha em tê-lo como filho natural.

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E Juazeirinho chorou há 18 anos, exatamente na manhã de 26 de dezembro de 2006, ao saber da notícia do seu falecimento.

Doutor Genival partiu aos 74 anos e, por ironia do destino, no mesmo lugar, Fazenda Várzea Nova, onde nascera, em 12 de março de 1932, sendo filho de Juventino Matias de Oliveira e de Virgínia Ferreira Maracajá.

Dr Genival, devido as dificuldades da época, iniciou sua vida acadêmica já tarde, tendo concluído o curso primário no dia 20 de dezembro de 1947 na escola rural mista de Riacho de Cavalo, no município de Juazeirinho, prestes a completar 16 anos.

Em 1951, ele concluiu o curso ginasial no dia 17 de dezembro, em Campina Grande, no colégio Alfredo Dantas, partindo para João Pessoa, onde, em dezembro de 1954, no Liceu Paraibano, concluiu o curso Clássico.

Como era muito estudioso, Dr Genival dava aulas, inclusive, para os seus companheiros de classe.

Ainda muito jovem, casado com dona Inês Matias, e cheio de responsabilidades, Dr Genival queria logo arrumar um emprego e soube por um amigo, colega de turma do Liceu, que, em 1955, o então deputado Estadual, Wilson Braga, estava precisando de uma pessoa com o seu perfil para assumir a direção de uma escola em Conceição, no Alto Sertão da Paraíba, onde o seu pai, Francisco Braga, era líder político, comerciante e tabelião, além de ter sido prefeito por três vezes do município.

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Certidão de nascimento de Dr Genival Matias de Oliveira

Com a informação, Dr Genival partiu em busca de Wilson, e lhe pediu o emprego.

O jovem deputado, que se tornara governador do Estado algum tempo depois, disse que sim, que lhe daria o emprego.

Louco para trabalhar, Dr Genival perguntou se já poderia viajar para começar a trabalhar, ao que Wilson disse: “calma, ainda vou mandar uma carta para Seu Braga, avisando”.

Alguns dias depois, chegava a notícia de que Dr Genival podia ir para Conceição e assumir a direção da escola Professor Batista Leite.

Rapidamente, ele arrumou as malas de couro, fretou um carro de praça e partiu para Conceição.

Era noite e chovia muito na região, a ponto de o rio Piancó não dar passagem para Conceição devido a força da água.

Assim, foi preciso Dr Genival posar em Piancó.

Ele estava muito ansioso, a chuva era forte e trovejava e relampejava muito, a ponto de não pregar o olho a noite inteira.

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Dr Genival com o seu filhinho, Bevilacqua, no colo

Porem na manhã seguinte, por volta das 6 horas, Seu Braga apareceu para lhe pegar.

Tinha 46 anos e estava muito animado com a nova aquisição.

Partiram então para Conceição, onde uma banda de música na praça central da cidade recepcionou o Dr Genival, um jovem cheio de sonhos e pronto para trabalhar.

E ele não se fez de rogado, dirigiu a escola e lecionou as disciplinas de português, matemática, inglês e noções de comércio, entre 1955 e 1959.

Inclusive, foi em Conceição que, no dia 4 de setembro de 1959, nasceu Bevilacqua, o primeiro filho de Dr Genival e dona Inês.

Ele retornou a Juazeirinho para disputar a primeira eleição para prefeito do recém-emancipado município, um desejo do seu pai, Juventino.

Aquele pleito foi bastante acirrado e Dr Genival enfrentou nas urnas, Severino Marinheiro, perdendo apenas por 109 votos de maioria (846 a 737).

Ressalte-se que Severino era um político afamado na região, tendo sido antes vereador e prefeito de Soledade.

A sua estrutura era gigante, pois fazia campanha em um Jeep da William, o carro luxuoso daquela época, ao passo que Dr Genival pedia votos em lombo de cavalo.

Passada a eleição, Dr Genival não quis saber mais de política e deu continuidade a sua vida acadêmica, concluindo o curso de ciências jurídicas e sociais na faculdade de direito da UFPB, colando grau no dia 4 de março de 1960.

Como estava residindo em Conceição, ele recebia o material didático por telégrafo, através do Código Morse, fazia as provas e enviava novamente pelo mesmo meio de comunicação para correção, concluindo o curso após quatro meses de intenso estudo.

Deu aulas em 1961 na cidade de Picuí e em 1964 em Juazeirinho, lecionando também na universidade Unipê em 1972 e retornando àquela instituição no início da década de 1990, onde ministrou a disciplina de processo civil.

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O jovem Dr Genival Matias de Oliveira, homem sonhador e incansável na sua luta para fazer o bem

Também foi consultor jurídico da Prefeitura de Conceição de 25 de maio de 1957 a 4 de maio de 1960, e da Prefeitura de Ibiara, de 5 de janeiro de 1960 a 19 de janeiro de 1961.

Dr Genival atuou como promotor de Justiça do Rio Grande do Norte, após ser aprovado em concurso público, nas comarcas de São João do Sabugy e Serra Negra do Norte, respectivamente, 1ª e 2ª entrâncias, de 20 de janeiro de 1961 a 17 de fevereiro do mesmo ano, tendo sido promovido por mérito.

Também foi aprovado em concurso para o Ministério Público da Paraíba e atuou como promotor de Justiça em Picuí e Juazeirinho.

Foi juiz de direito nas comarcas de Conceição, Aroeiras, Esperança, Araruna, Cuité e Picuí.

Dr Genival atuou como juiz Federal substituto na Paraíba, entre 1967 a 1976.

Entre 1968 e 1969, Dr Genival foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba.

No Rio Grande do Norte, foi juiz Federal em exercício pleno, nos meses de março e abril de 1968, por determinação do Conselho Federal de Justiça e membro por igual período do Tribunal Regional Eleitoral daquele Estado, voltando novamente a ser membro do TRE/RN de 1º de março de 1973 a 14 de julho de 1974.

Atuou ainda na Justiça Federal do Piauí e do Pernambuco, onde se aposentou em 1988, aos 56 anos, para retornar à política e tentar realizar o desejo do seu pai, de um dia se tornar prefeito de Juazeirinho.

Apesar de sua grande capacidade, Dr Genival tentou por algumas vezes, mas nunca conseguiu vencer uma eleição para prefeito, muito embora tenha sido eleito vice-prefeito em 2000, na chapa encabeçada pelo ex-prefeito, Dr Fred Marinheiro (2001 – 2008).

Porem a sua persistência e o sonho do seu pai, foram cumpridos nas pessoas do seu filho, Bevilacqua, eleito prefeito por duas vezes de Juazeirinho, em 2008 e 2016, e de sua neta, Anna Virgínia, que venceu os pleitos de 2020 e 2024.

Além disso, a sua trajetória abriu portas para o seu filho, Genival Matias Filho, de saudosa memória, eleito deputado Estadual por três mandatos, chegando a ser vice-presidente da Assembleia Legislativa, e um dos políticos mais influentes da Paraíba.

Ou seja, o trabalho de Dr Genival não foi em vão e continua dando frutos.

Ele, apesar da inteligência intelectual bem acima da média, não menosprezava ninguém e sempre abraçava os mais pobres, tendo formado uma verdadeira legião de seguidores.

Dr Genival partiu, mas a sua história e seu exemplo de vida continuam inspirando pessoas.

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Foto histórica de 1960: Dr Genival ao fundo, a esquerda, Severino Cavalcante (ex-prefeito de Campina Grande), a direita, Pedro Gondim (governador da Paraíba) e discursando,  João Agripino, ex-governador, ex-senador e na época candidato a deputado Federal

 

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