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O São João: Tradição Ameaçada por Novas Direções

É fundamental que se reflita sobre o verdadeiro legado que se deseja construir para as futuras gerações

30/06/2025 às 13h22 Atualizada em 01/07/2025 às 21h47
Por: Heleno Lima
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José Carlos Araújo Silva - Bacharel em Direito
José Carlos Araújo Silva - Bacharel em Direito

O São João sempre representou um período de grande significado e afeto, um convite irrecusável ao reencontro com as raízes, a cidade natal e, sobretudo, com amigos e familiares.

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As festividades de rua, embaladas pelo autêntico forró, são a essência dessa celebração, marcando a tradição nordestina e proporcionando momentos inesquecíveis de confraternização e alegria.

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No entanto, percebe-se uma preocupante descaracterização do São João em muitos municípios. Citando a canção dos "Três do Nordeste", o São João "tá diferente, mas não tá melhor".

Em minha humilde opinião, alguns gestores parecem estar desvirtuando a rica cultura nordestina ao integrar ritmos como o brega funk e a música eletrônica nas programações.

Embora não haja nada de intrinsecamente errado com esses estilos musicais, a questão reside na sua adequação ao contexto junino.

Eles atraem um público distinto, que, por vezes, traz consigo uma cultura paralela, manifestada em práticas como a "pornofonia" e brincadeiras que, no mínimo, são questionáveis.

O que alguns chamam de "banho de chuva", por exemplo, frequentemente se revela um "banho de álcool", alterando drasticamente o ambiente familiar e acolhedor que sempre caracterizou essas festas.

Essa mudança não apenas desvirtua o propósito original do São João, mas também levanta preocupações sobre a segurança e o tipo de entretenimento oferecido.

A substituição do forró pé de serra por gêneros musicais que promovem um comportamento mais voltado para o consumo excessivo de álcool e para a sexualização do espaço público afasta as famílias e desestimula a participação de crianças e idosos.

Para agravar a situação, presenciamos o paradoxo de cidades que anunciam celebrações extensas, de até 30 dias, mas que no próprio Dia de São João, a data mais emblemática, pecam pela ausência de elementos essenciais.

Em alguns casos, nem mesmo as luzes dos portais festivos estavam acesas, e o autêntico "pé de serra" – a alma do São João – estava em falta, sem ilhas de forró para os verdadeiros amantes da tradição. Isso sugere uma desconexão entre a promessa e a entrega, diluindo a experiência genuína.

Embora o objetivo de atrair um público maior possa ter sido alcançado com essas mudanças, é provável que o custo tenha sido alto: o afastamento de muitas famílias locais e daqueles que tradicionalmente viajam para prestigiar os autênticos festejos juninos.

A memória afetiva do São João, construída ao longo de gerações, corre o risco de ser substituída por um evento genérico que pouco ou nada tem a ver com a riqueza cultural do Nordeste.

É fundamental que se reflita sobre o verdadeiro legado que se deseja construir para as futuras gerações.

Por José Carlos Araújo Silva - Bacharel em Direito

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