O São João sempre representou um período de grande significado e afeto, um convite irrecusável ao reencontro com as raízes, a cidade natal e, sobretudo, com amigos e familiares.
As festividades de rua, embaladas pelo autêntico forró, são a essência dessa celebração, marcando a tradição nordestina e proporcionando momentos inesquecíveis de confraternização e alegria.
No entanto, percebe-se uma preocupante descaracterização do São João em muitos municípios. Citando a canção dos "Três do Nordeste", o São João "tá diferente, mas não tá melhor".
Em minha humilde opinião, alguns gestores parecem estar desvirtuando a rica cultura nordestina ao integrar ritmos como o brega funk e a música eletrônica nas programações.
Embora não haja nada de intrinsecamente errado com esses estilos musicais, a questão reside na sua adequação ao contexto junino.
Eles atraem um público distinto, que, por vezes, traz consigo uma cultura paralela, manifestada em práticas como a "pornofonia" e brincadeiras que, no mínimo, são questionáveis.
O que alguns chamam de "banho de chuva", por exemplo, frequentemente se revela um "banho de álcool", alterando drasticamente o ambiente familiar e acolhedor que sempre caracterizou essas festas.
Essa mudança não apenas desvirtua o propósito original do São João, mas também levanta preocupações sobre a segurança e o tipo de entretenimento oferecido.
A substituição do forró pé de serra por gêneros musicais que promovem um comportamento mais voltado para o consumo excessivo de álcool e para a sexualização do espaço público afasta as famílias e desestimula a participação de crianças e idosos.
Para agravar a situação, presenciamos o paradoxo de cidades que anunciam celebrações extensas, de até 30 dias, mas que no próprio Dia de São João, a data mais emblemática, pecam pela ausência de elementos essenciais.
Em alguns casos, nem mesmo as luzes dos portais festivos estavam acesas, e o autêntico "pé de serra" – a alma do São João – estava em falta, sem ilhas de forró para os verdadeiros amantes da tradição. Isso sugere uma desconexão entre a promessa e a entrega, diluindo a experiência genuína.
Embora o objetivo de atrair um público maior possa ter sido alcançado com essas mudanças, é provável que o custo tenha sido alto: o afastamento de muitas famílias locais e daqueles que tradicionalmente viajam para prestigiar os autênticos festejos juninos.
A memória afetiva do São João, construída ao longo de gerações, corre o risco de ser substituída por um evento genérico que pouco ou nada tem a ver com a riqueza cultural do Nordeste.
É fundamental que se reflita sobre o verdadeiro legado que se deseja construir para as futuras gerações.
Por José Carlos Araújo Silva - Bacharel em Direito